A Toca e o Espelho - Micah ABF

O QUE É?
Em suas duas grandes obras, Alice no País das Maravilhas e Alice no País dos Espelhos, Lewis Carroll (Charles Lutwidge Dogson) faz um desafio à nossa lógica: “Como pode uma insana fantasia ter mais sentido do que nossa sã realidade?”. A princípio esse desafio não parece existir, mas quando devidamente analisados, ambos os livros expõem sua mágica. Lewis nos apresenta dois mundos distorcidos e incoerentes onde nossos pensamentos, palavras e atitudes são postos à prova. Duas longas e confusas viagens que nos mostram o quão distorcido o mundo a nossa volta se tornou.
E através disso justifico a escolha do titulo “A Toca e o Espelho”. Eu proponho não somente que vejamos as distorções do mundo em que estamos, mas também do mundo que somos, para que possamos corrigir tais erros, tais distorções. A perfeição pode ser inalcançável, mas é nossa obrigação correr atrás dela.
Deus nos criou como os mais complexos dos seres. Quando comparado a nós, o universo torna-se finito. Somos capazes de coisas que estão muito além do que se quer imaginamos. Somos uma das maiores criações de Deus, e poucas são as vezes que nos lembramos disso.
 A Bíblia não é apenas um livro de historias ou um manual de regras, nela está escrito muito mais. Quem somos? Como pensamos? Como sentimos? Os caminhos para alcançarmos essas respostas, quando não as próprias, estão na lá, basta procurar. E meu objetivo aqui será ajudá-los a encontrá-los, da mesma forma que espero que me ajudem.

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A VERDADE


“O que estivemos fazendo em todos esses séculos senão tentando chamar Deus de volta à montanha, ou, sem conseguir, erguendo uma voz fraca de qualquer coisa que nao venha de nós? Qual a diferença entre uma catedral e um laboratório de fisica? Ambos não estao dizendo ‘olá’?”
DILLARD, A. Teaching a Stone to Talk, New York: Harper-Perennial, 1992. p. 89.

Vivemos hoje uma época marcada pelo agnosticismo (a falta de crença e descrença na existência de Deus), o pan-ateismo e o extremismo religioso. Porém não é sobre nenhum destes que escreverei este texto. Aqui escreverei sobre nós, jovens cristãos, perdidos em um mundo onde a religião parece não medir esforços para criticar a ciência, e alguns cientistas que parecem lutar insandessidamente para destruir a religião. Perdidos em meio a esse violento duelo de titãs, estamos nós, impossibilitados de escolher apenas um dos lados.  

Na tentativa de conciliar ciência e religião muitos jovens têm optado por não conciliar. Como água e óleo, ciência e religião não se misturam nas mentes desses jovens. Sao armazenados como duas coisas completamente diferentes e independentes: “A religião é algo de que se precisa após a morte, e a ciência antes da morte”. Isso não é apenas um erro, é um absurdo, e o pior é que não podemos culpá-los. 

Ano passado foi comemorado os 100 anos de Darwin, entretanto poucos dos jovens de hoje sabem a confusão que a teoria da evolução proposta por Darwin em “A Evolução das Espécies” causou no mundo teológico. As igrejas se armaram instantaneamente. Como se uma guerra estivesse por vir, milhares de igrejas iniciaram um programa, que mais parecia um programa de lavagem cerebral em massa. Todos os domingos das escolas dominicais até os cultos vespertinos, teorias e mais teorias eram bombardeadas sobre os membros, muitas delas sem o menor cabimento: desde dinossauros morrendo no diluvio até Satanás como criador dos fósseis com o propósito de enganar os cientistas. E assim, de gafe em gafe, a igreja foi perdendo cada vez mais a credibilidade. 

Há alguns anos ouvi uma frase que achei muito interessante: “Ciência e Religião são apenas dois caminhos diferentes para um mesmo lugar”. Muitos dizem que conciliar as descobertas científicas e Deus é um erro ou uma perda de tempo. Mas a Bíblia traz a Verdade. A Verdade é algo complexo, algo que a ciência está atrás há anos, e pouco a pouco ela se aproxima.  Já a religião, apesar de ter a Verdade, não a compreende. Ambas estão em busca da mesma coisa, compreender a Verdade.

Após a comprovação da Teoria do Big Bang, o astrofisíco Robert Jostrow escreveu no final de seu livro “God and the Astronomers” [‘Deus e os astrônomos’]: 

“Neste momento parece que a ciência nunca será capaz de erguer a cortina acerca da criação. Para o cientista que viveu pela sua fé na força da razão, a história encerra como um sonho ruim. Ele escalou as montanhas da ignorância; vê-se prestes a conquistar o pico mais alto; à medida que se puxa para a rocha final, é saudado por um bando de teólogos que estiveram sentados ali durante séculos.”
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ONDE ESTÁ A DIFERENÇA?

Durante séculos, nós, cristãos, nos consideramos diferentes dos demais, nos consideramos os civilizados em meio aos bárbaros. De fato somos diferentes dos demais, porém, infelizmente, isso só tem se mostrado no lado espiritual.
 
Durante os três primeiros séculos da era cristã, os cristãos foram acusados injustamente, perseguidos e mortos pelos romanos. No ano 325, Roma assume o cristianismo como religião oficial do império. Séculos mais tarde a igreja católica se torna a mais poderosa instituição sobre a Terra e inicia uma gigantesca caça as bruxas, condenando todos que se opunham a ela, sendo a maioria condenada à fogueira em praça pública, com a desculpa de que o único meio de salvar aquelas almas era a purificação pelo fogo. A caça aos protestantes também foi sangrenta e impiedosa. Séculos mais, na Irlanda do Norte, cristãos protestantes assumem o poder e iniciam um processo de exclusão e provocação aos cristãos católicos na Irlanda. Como você pode observar, um ciclo constante de ódio, discriminação e perseguição.  
 
E aqui vai a minha pergunta: onde está a diferença entre os romanos pagãos e os católicos antes perseguidos? Onde está a diferença entre os protestantes oprimidos e os católicos impiedosos? Infelizmente, nessa situação, nenhuma. Tudo que consigo ver são semelhanças, impiedosas e cruéis semelhanças. Todos cristãos, porém se deixaram guiar pelo egoísmo, pelo orgulho, e pelo preconceito. Todos cristãos que se esqueceram do maior de todos os ensinamentos dados por cristo: o amor ao próximo.
 
Cristo nos ensinou que devemos amar uns aos outros (Lucas 10:27 ; João 13:34). Devemos deixar o egoísmo de lado, e ajudar a todos que necessitam de nós. Assim como Deus nos amou e cuida de nós, Ele quer que amemos e cuidemos uns dos outros, independente se nos fizeram algum mal ou não (Mateus 5:39-40). Esta é a diferença que devemos ter: devemos amar a todos, amigos ou inimigos (Mateus 5:45), mesmo que seja difícil, mesmo que pareça difícil, devemos sempre tentar. É isso que vai mostrar ao mundo o que é o verdadeiro amor de Deus, a verdadeira face de Deus, aquilo que aprendemos quando éramos crianças e acabamos nos esquecendo, que Deus é amor, amor que vive sobre nós, entre nós e em nós.

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ENTRE A CRUZ E O CRUCIFIXO
Do Gênesis ao Apocalipse a Bíblia está repleta de símbolos e analogias. Cada um deles trazendo consigo um profundo significado, sendo que muitas vezes, mais de um. A cruz é um desses símbolos.

Ao longo dos evangelhos e do Novo Testamento a cruz foi recebendo novos significados e novas formas. De símbolo de humilhação e morte, a cruz tornou-se símbolo de salvação, penitência, perdão, religião, entre muitos outros. Cada um desses significados traz consigo uma mensagem única e maravilhosa.

O crucifixo surgiu algum tempo depois. Apesar de ser mal visto por grande parte de nós, evangélicos, este veio para enfatizar a ideia do sacrifício, da humilhação e da dor que Jesus sofreu por amor a nós. Algo para manter sempre vivo na lembrança, o amor do Pai e do Filho para conosco.

Porém, há algo que muito falamos e pouco analisamos. Se acaso lhe perguntassem qual a diferença entre a cruz e o crucifixo, como você responderia? A presença do corpo no crucifixo ou a ausência do mesmo na cruz? Qual a diferença entre as respostas? Toda! Quando você usa aquele popular pingente de cruz, o que você esta carregando: a cruz vazia ou o vazio da cruz?

Apesar de toda a atenção que damos a ressurreição de cristo, o principal marco do Evangelho, nos esquecemos que na verdade é o vazio da cruz que na verdade representa a ressurreição de Cristo. Jesus tomou para si nossos pecados e por isso sofreu em nosso lugar a pior de todas as consequências do pecado: A morte espiritual.

“Deus meu, Deus meu, por que me abandonaste?”

A morte espiritual, o afastamento da presença de Deus é, sem dúvida, o pior de todos os sofrimentos. E Jesus suportou tudo por amor a nós. Porém não permaneceu morto. Ele ressuscitou e voltou para seu lugar ao lado do Pai, vencendo sobre a morte e o pecado. Deixando vazia a cova em que o haviam colocado. Deixando vazia a cruz que o pregaram.

O que você carrega consigo: o perdão, o amor ou a ressurreição? A cruz vazia, o crucifixo ou o vazio da cruz?

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